Livro
Onde as borboletas não habitam
Luciane Bonace
Aletria Editora
2022, 1ª edição188 páginas
Bedřich, Dora e Helena.
O livro começa nos apresentando estes 3 personagens, crianças de 11 anos, suas famílias, suas vidas em Praga em 1939.... e como tudo isso mudou.
... Mudou???...
Enquantou eu lia, pensava nos tempos de pandemia em que ficamos isolados em nossas casas e a reclamação de "todo mundo" era porquê as vidas tinham mudado e queriam que voltasse a ser como era antes.
As 3 crianças do livro, viram suas vidas mudar .... Não, mudar não. Serem transformadas em algo terrível, inacreditável até para histórias de livros.
Mas esta é uma história baseada em fatos reais da história mundial, por isso é tão absurdo e difícil de acreditar.
As três crianças e outras tantas pessoas, por serem judeus, foram feitos prisioneiros dos nazistas em um campo de concentração em Terezín (Theresienstadt), na então Tchecoslováquia.
A autora narra o dia-a-dia de sofrimento, fome, dor e incerteza do futuro, com relatos das crianças... conseguidos a partir de + de 6 mil desenhos e poemas, fotos e informações históricas, encontrados após o final da Segunda Guerra Mundial.
Eles mostram como crianças e adolescentes enfrentaram este cruel período com arte: Praga era um local onde existiam muitas pessoas estudadas e ricas em cultura e arte, como professores, músicos, poetas, e artistas em geral. Bem como médicos, enfermeiros, psicólogos e tantos outros profissionais que estavam na mesma situação: prisioneiros.
E trabalhando no campo de concentração, apesar da imundície e sofrimento... vão oferecer às crianças um mínimo de entretenimento menos doloroso e mais colorido: a arte.
Desenhavam, pintavam, escreviam poemas, cantavam e produziam peças de teatro.
Mantinham-se ocupados e com esperança que as coisas pudessem voltar a ser como antes com amizade com as outras crianças e o carinho dos professores e dos cuidadores.
Impossível não ser tocado, não se emocionar.... a narrativa é sensível!
"Estávamos quase mortos de fome, doentes, e desenhavamos mesmo nessas condições".
"Estávamos presos, mas éramos livres".
"Querem nos transformar em lagartas, enclausurados nos quartos e dentro de nós mesmos, mas não percebem que estamos nos transformando em borboletas, desabrochando para a vida, criando asas. As atividades artísticas e os laços de amizade que estamos construindo nos fazem voar para além dos muros".
"(...) um vagalume. É tão pequeno e ao mesmo tempo tão brilhante. Uma maravilha da natureza, um milagre. Não deixou de brilhar mesmo com os transportes e com nossa tristeza. Mesmo sendo tão pequeno e frágil, o vagalume está vivo e pode emanar sua luz por onde passar".
A arte. Ela persistiu. Ela ensina a persistir.
E assim seguiram por 4 anos... ao mesmo tempo em que muitos morriam por falta de tratos, doenças, fome e /ou encaminhados para outros locais com câmaras de gás...
Por todo o livro tem fotos dos desenhos das crianças que a autora acompanhou em uma exposição.
E poemas também.
Para comprar o livro
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